quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uma vela para Dario - Dalton Trevisan (Parte I)

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
CONTINUA...

7 comentários:

Anônimo disse...

Que triste! Muito bem escrito!

●๋•√ï¢тØя™•● disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yaser Yusuf disse...

Gostei o do Post, assim como do blog tb
Vou seguir , quando puder segue o meu tb
Abraço!
http://yaseryusuf.blogspot.com/

Rosangela A. Santos disse...

Nossa!!

Não consegui entender pq ele está assim... continuação .. continuação.. rsrsrs

Abç.

Anônimo disse...

Dalton Trevisan é sensacional, seu texto expressa aqueles escritos vampirescos do romantismo, além de ser muito bem escrito. Parabéns pelo blog!

Espero pela continuação

Abraços!

Diogo de Castro disse...

Continuação, logo logo!

●๋•√ï¢тØя™•● disse...

Não entendi ainda, espero a continuação. pra me entender.